Uma das colunas que publicava irregularmente no site ecbahia.com
15/11/2020
Olá a todos!
Estou de volta, para desagrado de alguns poucos (assim espero). A minha última
aparição aqui neste espaço se deu em maio de 2010. À época eu era um
sorumbático cronista de Série B. Convenhamos que isso não estava à altura da
minha estatura.
Eu comecei a
escrever aqui para o ecbahia.com em março de 2005 e, desde então, só tinha
enfrentado a árdua missão de comentar a trajetória do glorioso tricolor,
esquadrão de aço, meu Bahêa nessa porra, em competições nacionais da Série B e
“Cerei” C e Série B de novo. Enchi o
saco desse negócio.
E, não menos
importante, achei que eu era o culpado pelo fato de o Bahia não estar ainda na
Série A. Afinal, cinco anos escrevendo, dando pitacos, criticando, apontando
equívocos, dando sugestões e nada! Só havia uma explicação: era eu quem estava
pesando. Era preciso aliviar essa carga para o Bahia subir. Eu sou bastante modesto, como se pode ver,
mas tinha que aceitar esse fato irrecorrível – parei de escrever. Se eu já me
constituía num conselheiro consultivo que não era consultado, então deveria ser
também um escritor que não era escriturado.
E qual foi o
resultado? Hein? Hein? O primeiro resultado prático foi a saída do técnico
morubixaba, mantido no cargo mesmo depois de perder um Campeonato Baiano
praticamente ganho! Renato Gaúcho foi tomar o seu mate nos pampas e por lá se
tem dado muito bem, mas por aqui iria azedar nosso caruru com certeza. Ponto
pra mim. Comemorei silenciosamente. Fãs de ambos os gêneros (mais de um do que
outro) lamentaram. Em vão.
A notícia da
contratação do desconhecido técnico Márcio Araújo me causou uma certa rejeição
inicial, pois eu achei que era aquele Márcio Bittencourt, um meio gazo, que
treinou o Ipatinga este ano nos 02 minutos protocolares para um técnico naquele
time. Desfeita essa minha confusão, o descontentamento continuou quando ele
manteve no primeiro jogo o mesmo time e postura que eram adotados por Renato
Gaúcho. Tomamos um cacete feio do Coritiba, jogando em Joinville, e nem vimos a
cor da bola. Aquilo me deixou abalado no que tange à eficácia da minha
estratégia de silêncio.
Mas seria o
Benedito? Sim, seria. Seria o benedito etimológico – bendito! O “Pastor” Márcio Araújo entre uma renitente
piscada de olho e outra, com sua fala mansa de lullaby budista, com a sua
prática revolucionária de treinar tática e tecnicamente o elenco, em vez de
fazer só baba, foi dando uma face reconhecível ao time. Os resultados começaram
a aparecer. Mais pontos pra mim. Comecei a coçar os dedos para escrever umas
observações, mas me contive muito relutantemente.
Resumindo a
história: minha estratégia se revelou cientificamente verdadeira por
comprovação inequívoca de sua eficácia.
Descobri que, se no Jogo do Bicho vale o que está escrito, para erguer o
Bahia vale não escrever.
Há alguns anos
eu escrevi aqui uma crônica intitulada “A Ciência da Superstição – Parte 1” e
nunca escrevi a parte 2, nem epílogo, nem zorra nenhuma. Pois aí está: depois
de ter comprovado que minha bermuda da Mesbla, meu rádio sempre com as mesmas
pilhas recarregadas no congelador e minha imobilidade na posição em que me
encontrava no momento de um gol eram fatores decisivos para os triunfos do
Bahia, cheguei à ultimate top infalível atitude para garantir o sucessivo
sucesso do tricolor rumo à primeirona – a mudez escrita ou, atualizando,
estratégia Tiririca, o deputado. Foi só não escrever nada e pronto.
Em que outra
circunstância vocês acham que o Bahia iria ganhar fora de casa da Ponte, da
Lusa, do Sport (sem 15 dos nossos titulares)? Não acharam estranho? Pois é: fui
eu. Quer dizer, não fui eu, foi o não-eu, foi minha omissão, minha abstinência,
meu celibato literário.
Em minha
franciscana humildade, não estou esperando nenhum reconhecimento público do meu
gesto de renúncia, de auto-anulação. Já estou me sentindo bem demais com o
acesso e não acho necessário que me chamem para entrevistas, bocas-livres,
placas comemorativas ou quaisquer outras homenagens. Só espero da diretoria é
que me avise se vai fazer um time meia-boca em 2011, pois aí, em vez de ficar
sem escrever, eu vou ter que aprender umas palavras e palavrões novos.
***
Interessante
como o choro esteve presente nesse momento do acesso do Bahia à Série A. Na
verdade, a trajetória do Bahia nesse longo calvário tem como marco inicial o
choro convulsivo e sincero do goleiro William Andem, em 97, depois do jogo
contra o Juventude, e espero que o tocante choro de Ávine no último sábado seja
o marco final nessa história lacrimogênea.
Precisamos
voltar a rir, a gritar, a uivar, sei lá. Negócio de chorar, rapaz... Seja
homem! No primeiro gol de Adriano nesse jogo contra a Lusa eu, em vez de gritar
gol, fui olhar pra cima, pro céu, pensei em meu pai... e chorei. Ele foi um pai
Série A.