Os fatos vivem se sobrepondo para causar abalos consideráveis na nossa crença em algum futuro minimamente esperançoso e louvável para a espécie humana. Logo a gente, que adquiriu a capacidade de compreender quase tudo ao nosso redor - do minimamente ínfimo ao enormemente vasto; que aprendeu a dominar os elementos e a elaborar planos para bem além da próxima refeição.
Mas todo o desalento causado pelos fatos adquirem em mim um arrefecimento quando me deparo com um banco de praça, de rua, de parque. Fico ali admirando a generosidade que temos o potencial de adotar. Fico pensando que pessoas são capazes de criar, desinteressadamente, altruisticamente, um objeto para que outros possam utilizar para descanso, para contemplação, para reflexão, para encontros, para conversas, para namoros, entre outras utilidades ou mesmo futilidades.
Fico pensando no designer que se preocupou em criar um modelo com materiais, dimensões e características que oferecessem um nível adequado de conforto e segurança à maioria dos biotipos dos prováveis usuários, além de uma presença estética no ambiente. Fico pensando no administrador que escolheu estrategicamente o local para posicionar o banco - seja por situá-lo sob a sombra de uma árvore, no meio do percurso de uma caminhada que pode se tornar cansativa para alguns, ou num local que propicie a reunião de pessoas interessadas apenas em socialização ou compartilhamento da vida alheia.
A música de Carlos Imperial, “A Praça”, começa dizendo “Hoje eu acordei com saudade de você...”; pois hoje eu acordei foi com vontade de registrar seletivamente os fatos. Vou sentar num banco imaginário de praça, de rua, de parque, de quintal, e pensar que, enquanto existirem pessoas construindo esses assentos e os distribuindo pelo mundo (mesmo se neles colocarem algum cartaz de propaganda), ainda nos restará alguma esperança.