Ao longo da vida tenho constatado evidências empíricas de que várias sequências do meu DNA têm sido usadas para reproduzir minhas características físicas, mormente as faciais. Sempre foi muito comum ser apresentado a alguém e ouvir um “você é cara de...”, “menino, você é irmão de ...?” ou mesmo apenas um “você me lembra muito...”
Esse assunto me foi trazido à
mente agora depois de ler a matéria da BBC que pode ser encontrada nesse link: https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-63600059
Entre as muitas histórias
envolvendo sósias ou quase sósias que se passaram comigo, tem um episódio que aconteceu
na minha adolescência, relacionado a um cara que diziam ser muito parecido
comigo, e que era da mesma cidade do interior em que eu morava. Éramos companheiros
de babas e convivíamos com as mesmas turmas. Eu não nos achava assim tão
parecidos, mas sempre que eu ia reconhecer uma firma no Tabelionato de Seu
Amabérico, ele me perguntava pelo meu pai (no caso, o pai do sósia) e eu tinha
que lhe esclarecer que oficialmente meu pai era outro e que ele devia estar me
confundindo com Afonso*.
Pois então, durante uma ensolarada
manhã de domingo numa micareta, eu estava num bloco de maioria mascarada e suspendi
a máscara até o topo da cabeça por uns instantes pra secar o suor do rosto.
Depois recoloquei a máscara e continuei ali no meio do bloco. Logo em seguida,
uma menina sem máscara me abraçou pela cintura e ficou me acariciando. Eu,
agradavelmente surpreso, tratei de retribuir, depois de conferir os atributos
físicos da desconhecida beldade e, na primeira oportunidade, saímos do bloco sendo
atraídos para um beco onde poderíamos dar uns amassos mais privadamente, ainda
que num espaço tão público (ambiente que para adolescentes com o cérebro
inundado de hormônios é como estar numa ilha deserta – não se está nem aí para
os circunstantes).
Então, num determinado momento,
quando já nos encontrávamos adiantados nos procedimentos libidinosos
palpatórios, osculatórios e assemelhados, ela me encarou bem e, assustada,
exclamou: “Você não é Afonso, não?”.
Revelação: era namorada de
Afonso! Vinha de outra cidade.
Ela me pediu mil desculpas! Eu a
desculpei mil vezes e a fiz ver que foi um imenso prazer conhecê-la naquelas
circunstâncias. Disse-lhe que Afonso era meu amigo (até então) e que eu nunca
iria ter a iniciativa de colocá-lo a par daquele nosso momento de inocente mal
entendido bem aproveitado, embora interrompido abruptamente. Ela se foi, devolvendo
para mim algumas vezes um olhar confuso, até hesitante, eu diria, à medida que se
distanciava. Resolvi voltar para o bloco e continuar sem a máscara, não sei se
para evitar ou para atrair de volta a aturdida e inominada criatura.
Foi mal aí, Afonso, mas foi muito
bom, pelo menos pra mim, ser seu sósia naquele dia!
*O nome verdadeiro do meu amigo,
obviamente, está sendo omitido/substituído para manutenção da devida discrição
que o incidente requer.