Plantão da Língua Portuguesa informa:
Vez em quando me deparo com mensagens no correio eletrônico (e-mails, para sucumbir ao barbarismo) contendo expressões com erros diversos que me deixam com uma insuportável coceira nos dedos. Aí não resisto e respondo assim: “Plantão da Língua Portuguesa informa: ...”, aproveitando para defender a língua pátria e sapecando a correção daquilo que eu julgo estar equivocado do ponto de vista ortográfico, gramatical, mesmo sem ter muita autoridade para tal.
Tem umas palavras que são meio espinhosas para a maior parte das pessoas. Na hora que surge a dúvida sobre a grafia correta delas, escolhe-se sempre a forma incorreta. Alguns exemplos são:
- depedrar (incorreta), em vez de depredar (correta) – o pessoal acha que essa ação de espoliar algo tem a ver com jogar pedras e aí não dá outra: tome-lhe “depedrar” (se pensassem em predador, não errariam);
- degladiar (incorreta), em vez de digladiar (correta) – para escrever e falar certo é só ter em mente um duelo de espadas (di = dois; gládio = espada);
- estrupar (incorreta), em vez de estuprar (correta - não do ponto de vista da atitude, mas ortográfico!) – essa eu nem sei o que causa o erro, talvez um desejo inconsciente de estuprar a língua. Se pensarem que é uma atitude estúpida, têm grandes chances de acertar a grafia;
- frustar (incorreta), em vez de frustrar (correta) – provavelmente devem imaginar que seja impossível uma mesma palavra ter dois erres depois de duas consoantes (f e t) ou queiram frustrar os esforços do seu professor de Português (quando se tem a sorte de tê-lo, coitado!).
Isso para não falar em “célebro” (cérebro), “pobrema” (problema), “padastro” (padrasto), “protistuta” (prostituta), “previlégio” (privilégio), “se esmerilhar” (se esmerar), “débora mental” (débil mental), “aos troncos e barroncos” (aos trancos e barrancos) e por aí vai.
As pessoas também não sabem que existe um substantivo
masculino chamado crescendo, que vem
do italiano, o qual é muito utilizado em notação musical para designar aumento progressivo
de sonoridade e no nosso cotidiano deve ser usado quando se quer referir a
progresso, gradação (ex.: o partido vem num crescendo considerável entre os
jovens). Aí os nossos Homo pseudosapiens
acham que, com a terminação “endo”, essa palavra está destinada a ser
exclusivamente o gerúndio do verbo crescer e imediatamente a substituem pelo substantivo/adjetivo
“crescente”, que poderia ser como aquele fértil da Mesopotâmia, mas esse seres
criativos operam uma mudança de sexo na palavra e a tornam feminina (ex.: o
partido vem “numa crescente”...). Minha indignação vai num crescendo que só tem
um diminuendo quando o quarto crescente da Lua começa a trazer alguma luz às
trevas tão democraticamente distribuídas.
Falando em mudança de sexo, no campo das denominações das doenças houve uma verdadeira epidemia de transexualidade: o dengue virou a dengue; a cólera virou o cólera; mas o mais marcante evento de transformação radical de identidade de gênero se deu com o diabetes: a revista Istoé publicou uma matéria de capa em que chama a doença de "a diabete"!! Pronto. Virou a chacrete do diabo! Era o que nos faltava.
Falando em mudança de sexo, no campo das denominações das doenças houve uma verdadeira epidemia de transexualidade: o dengue virou a dengue; a cólera virou o cólera; mas o mais marcante evento de transformação radical de identidade de gênero se deu com o diabetes: a revista Istoé publicou uma matéria de capa em que chama a doença de "a diabete"!! Pronto. Virou a chacrete do diabo! Era o que nos faltava.
Também não se deve dizer “há alguns anos atrás”, porque, além da possível interpretação de exuberância anatômica dessa expressão quando sonorizada, a palavra “atrás” fica redundante, pois “há alguns anos” quer dizer “faz alguns anos” e não se diz “faz alguns anos atrás”. Então não se deve colocar “atrás” depois dos “anos”, quer dizer, deve-se evitar colocar “atrás” – se é que me faço entender. Mas se alguém quiser insistir em botar “atrás” colado nos “anos”, deve-se tirar o verbo e dizer apenas “alguns anos atrás”... Acho que ficou confuso demais esse negócio: na dúvida, o melhor mesmo é dizer “há algum tempo” ou “faz tempo” ou “tempos atrás” e pronto! Esquece essa coisa de “anos atrás”, que só dá complicação.
Outro dia eu ouvi um apresentador de TV local dar uma cacetada na mesa e dizer que a situação era “lastimoniosa”! Imagino que esse neologismo seja a síntese perfeita da mistura de lastimável com horrorosa. Acho até que deveríamos incorporar essa palavra ao nosso vocabulário cotidiano, pois às vezes as palavras disponíveis falham em traduzir a nossa perplexidade. Esse mesmo “criativo” apresentador disse que a população estava em “pavorosa”! Certamente quis dizer polvorosa (agitação) – a palavra vem de pó, que em castelhano é polvo – mas ele acabou “enriquecendo” o nosso idioma com mais uma pérola que, essa sim, poderia ser denominada de pavorosa.
Quando estiver de volta o horário eleitoral, é bem provável que tornemos a ouvir expressões como: povo do “recôncuvo”; gente de “Cachaceiras” (Cajazeiras); “candidato com forte penetração no baixo clero”; “o Dr. Fulano foi o único médico que só saiu de cima de minha mulher quando ela ficou boa”; e “as pedra desse carçamento fui eu quem pô-las, colocô-las e aterrô-las!” Não estranhem se a transmissão for interrompida por uma interferência dizendo: “Plantão da Língua Portuguesa informa:...” – minha paciência tem limites.
Quando estiver de volta o horário eleitoral, é bem provável que tornemos a ouvir expressões como: povo do “recôncuvo”; gente de “Cachaceiras” (Cajazeiras); “candidato com forte penetração no baixo clero”; “o Dr. Fulano foi o único médico que só saiu de cima de minha mulher quando ela ficou boa”; e “as pedra desse carçamento fui eu quem pô-las, colocô-las e aterrô-las!” Não estranhem se a transmissão for interrompida por uma interferência dizendo: “Plantão da Língua Portuguesa informa:...” – minha paciência tem limites.
Adorei Zé Roberto!!!!! A língua portuguesa realmente merece ter alguém de plantão no facebook, sai atrocidade!!!! kkkkkk Muito bom!!!
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