terça-feira, 10 de março de 2020

ESTÓRIAS BÍBLICAS ATUALIZADAS, AMPLIADAS E ANALISADAS



O mundo se acabando em água


O dilúvio universal ocorreu numa época em que não havia uma pessoa sequer na face da Terra que tivesse uma mísera embarcação; um barco qualquer; um bote; uma guiga; uma jangada; uma piroga; um tronco de bananeira; uma boia de câmara de ar de FNM...


Aí só quem pôde se salvar foi Noé, que houvera sido avisado com a devida antecedência (informação privilegiada) e, apesar de não ter qualquer know-how, construiu um enorme transatlântico, um Titanic de madeira com 10 mil toneladas, e lá colocou tudo quanto é casal de ser vivo, menos os dinossauros (que estavam destinados a perecer porque já tinham enchido as medidas), os 
anfíbios e os peixes  que já sabiam se virar adequadamente no meio aquático, embora alguns tenham tido dificuldade em adaptar-se à menor salinidade da água do mar, diluída por uma inundação diluviana planetária. Também foram excluídos todos os vegetais que, como se sabe, podem perfeitamente e sem exceção sobreviver submersos e no escuro por 40 dias (hum...). Alguns insetos vieram espontaneamente (pensou em baratas? Acertou!), outros deram trabalho para ser coletados mas, assim que capturados, foram devidamente submetidos a um processo de hibernação (criogenia) para serem descongelados oportunamente (a tecnologia para tal foi disponibilizada pelo detentor dos direitos à época).


Uma empresa de catering foi contratada para prover os diferentes alimentos de cada espécie pelos 40 dias da flutuação a esmo e pelos dias que se seguiram até que a oferta de alimentos na terra se normalizasse. Como não dava pra dizimar as formigas e cupins levados a bordo, os tamanduás tiveram que se conformar com uma papa de bunda de tanajura liofilizada que foi previamente providenciada pelos cientistas da família de Noé. Os bichos-preguiça não conseguiram chegar na praça de alimentação a tempo, durante todo o percurso, e passaram o período do cruzeiro todo sem se alimentar, dando origem à ideia para o surgimento de faquires.


Também foi contratado um serviço de limpa-fossa para dar conta dos dejetos gerados diariamente pelos animais, mormente os de grande porte.
Animais como os cangurus, coala, ornitorrinco e demônio da Tasmânia, finda a inundação, foram transportados por via aérea para a Oceania. Por isso não encontramos esqueletos dessa espécie em continentes outros.


Como o planeta todo foi inundado para dar cabo a (quase) todo ser vivente sobre a terra, incluindo crianças e a leva de indesejados naquele momento, podemos concluir que o nível das águas atingiu o topo das cordilheiras de todo o mundo e que, portanto, o volume de água existente no planeta se multiplicou enormemente para dar conta dessa tarefa (foi tanta chuva sendo gerada ininterruptamente que deve ter havido síntese de novas moléculas de água na atmosfera para formar novas nuvens carregadas); com a navegação se dando em águas tão elevadas, a temperatura despencou pra muitos graus abaixo de zero, a água da superfície congelou e o ar se mostrou rarefeito. Claro que Noé se preparou com equipamentos de climatização para manter uma temperatura adequada à sobrevivência das diferentes espécies que não fossem os pinguins (cansados, coitados, da longa jornada desde a Antártida). Também levou suprimento de oxigênio com pressurização da cabine da arca para contornar a rarefação do ar. Há quem diga que a inundação foi devida ao afundamento dramático de toda a crosta terrestre, a qual, depois de 40 dias, voltou a se elevar; e há quem acene para outra solução criativa e mágica. Não temos elementos para levar adiante a análise dessas hipóteses.


Enfim, foi mais uma demonstração de como os céus cuidam tão diligentemente de nós, com muito amor e misericórdia. Agora estou à espera do evento que me aterroriza desde a infância: que, da próxima vez, o mundo vai se acabar em fogo! Aguardo trêmulo e com ingênuas roupas antichamas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário