Tenho vivido como se minha vida dependesse disso.
Era uma vez em que não havia tempo.
Eu sempre tive pouco tempo para ter muito tempo.
Eu sempre tive muito tempo para ter pouco tempo, para não ter tempo pra nada.
Eu sempre tive muito tempo para nunca ter tempo pra sempre.
Estou muito longe de chegar perto.
Eu sempre soube que não saberia nunca.
Cultivei muitas árvores infrutíferas.
E quando o fado foi lançado
transpus de lado a lado
o Rubicão a nado.
A Lua está com os olhos tristes...
Pois não é sim, pois sim é não.
O entorno virou uma casa de intolerância.
Corpos ocupando o mesmo espaço no lugar.
Agi em ilegítima defesa.
Saí cantando “Adíos, muchachos” e retornei no dia seguinte assobiando “A volta do boêmio”.
Agora, já no fim de ninha existência, admito que tudo o que aprendi foi extremamente insuficiente e precário.
Seria bom morrer num dia chuvoso,
mas só depois que a chuva passasse:
para não perder essa última contemplação
da coisa natural que mais amei durante minha existência.
Dirijo-me a um paradeiro desconhecido, lugar incerto e, portanto, não sabido.
Deixarei com vocês o meu prudente silêncio ignorante.
Minhas últimas palavras não ficarão registradas na caixa preta.