O que seria
do meu interesse
era que o
tempo se detivesse
e que o
querubim convertesse
meus
anos em dezessete.
Minhas redes sociais ficam
constantemente me apresentando mensagens nostálgicas e propostas de adesão a grupos
que tratam de temas relacionados a décadas passadas.
No meu caso, a referência são os
anos 1960 e 1970. Foram anos de chumbo na política, mas, talvez por isso mesmo,
foram, reativamente, anos libertários no âmbito sociocomportamental. Para as
gerações atuais deve ser impensável atribuir algum valor contestatório a uma
letra de música que dizia “só quero que você me aqueça nesse inverno e que tudo
mais vá pro inferno!”. Mas foi. Que deixar o cabelo crescer para além do corte
militar (com máquina zero nas laterais e nuca), que usar roupas apertadas de cores
fortes, diferentes do predominante tom pastel, eram atos de enfrentamento e de
afirmação. E foram. Que as mulheres usando minissaia e pílulas
anticoncepcionais deixaram o conservadorismo reinante aturdido. E como
deixaram...
Houve o fim da devoção à
virgindade feminina e abandono da estigmatização da mulher que exercia o
direito de usufruir do sexo recreativo (como só os homens eram autorizados até
então). Houve o movimento hippie que contestava o establishment rejeitando o consumismo, o individualismo, a
propriedade, as posses em geral, e promovendo uma maior simplicidade e
integração com a Natureza (as drogas eram parte integrante do contexto, sim, mas
não se via violência disseminada relacionada a elas).
Os jovens de então eram de
esquerda. Éramos contestadores das velhas tradições escravizantes e
autoritárias. Era impensável ver um jovem conservador. Conservador do quê? Queríamos romper com a hipocrisia, com o
falso moralismo, com as injustiças sociais, com a tutela do belicismo reinante
até então.
E havia a música (se é que posso
falar no singular). Foi um momento histórico de explosões de boas músicas. Que
ficaram e que persistirão no tempo por suas qualidades. A música nos integrava o
nos enlevava, sem a pretensão de lascividade vulgar que hoje se pretende com estilos
que se consideram música por um lado, e sem a oportunista e medíocre exploração
da carência que a religiosidade proporciona a boa parte da população.
Às vezes eu fico pensando que a
gente só acha que os dias de antigamente constituíam tempos melhores porque
tínhamos corpos mais jovens e responsivos, tínhamos a leveza da
irresponsabilidade e ojeriza a moralismos, tínhamos o vigor e o destemor que os
hormônios nos proporcionam, tínhamos uma invulnerabilidade mítica e um futuro
promissor à nossa espera. Fico achando que toda devoção a esses tempos se deve
apenas à concomitante vivência da nossa juventude.
Mas, olhando em perspectiva, devo
concluir que realmente fomos felizardos em sermos jovens nesse período
histórico singular. Eu gostaria de ter de volta o meu corpo de 17 anos nos dias
atuais, mas não estou certo se ficaria tão satisfeito em levar esse corpo para
um festival gospel funk sertanejo onde se exalta o lema fascista Deus, pátria e
família.
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