sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Volver a los diecisiete


O que seria do meu interesse

era que o tempo se detivesse

e que o querubim convertesse

meus anos em dezessete.

 

Minhas redes sociais ficam constantemente me apresentando mensagens nostálgicas e propostas de adesão a grupos que tratam de temas relacionados a décadas passadas.

No meu caso, a referência são os anos 1960 e 1970. Foram anos de chumbo na política, mas, talvez por isso mesmo, foram, reativamente, anos libertários no âmbito sociocomportamental. Para as gerações atuais deve ser impensável atribuir algum valor contestatório a uma letra de música que dizia “só quero que você me aqueça nesse inverno e que tudo mais vá pro inferno!”. Mas foi. Que deixar o cabelo crescer para além do corte militar (com máquina zero nas laterais e nuca), que usar roupas apertadas de cores fortes, diferentes do predominante tom pastel, eram atos de enfrentamento e de afirmação. E foram. Que as mulheres usando minissaia e pílulas anticoncepcionais deixaram o conservadorismo reinante aturdido. E como deixaram...

Houve o fim da devoção à virgindade feminina e abandono da estigmatização da mulher que exercia o direito de usufruir do sexo recreativo (como só os homens eram autorizados até então). Houve o movimento hippie que contestava o establishment rejeitando o consumismo, o individualismo, a propriedade, as posses em geral, e promovendo uma maior simplicidade e integração com a Natureza (as drogas eram parte integrante do contexto, sim, mas não se via violência disseminada relacionada a elas).

Os jovens de então eram de esquerda. Éramos contestadores das velhas tradições escravizantes e autoritárias. Era impensável ver um jovem conservador. Conservador do quê?  Queríamos romper com a hipocrisia, com o falso moralismo, com as injustiças sociais, com a tutela do belicismo reinante até então.

E havia a música (se é que posso falar no singular). Foi um momento histórico de explosões de boas músicas. Que ficaram e que persistirão no tempo por suas qualidades. A música nos integrava o nos enlevava, sem a pretensão de lascividade vulgar que hoje se pretende com estilos que se consideram música por um lado, e sem a oportunista e medíocre exploração da carência que a religiosidade proporciona a boa parte da população.

Às vezes eu fico pensando que a gente só acha que os dias de antigamente constituíam tempos melhores porque tínhamos corpos mais jovens e responsivos, tínhamos a leveza da irresponsabilidade e ojeriza a moralismos, tínhamos o vigor e o destemor que os hormônios nos proporcionam, tínhamos uma invulnerabilidade mítica e um futuro promissor à nossa espera. Fico achando que toda devoção a esses tempos se deve apenas à concomitante vivência da nossa juventude.

Mas, olhando em perspectiva, devo concluir que realmente fomos felizardos em sermos jovens nesse período histórico singular. Eu gostaria de ter de volta o meu corpo de 17 anos nos dias atuais, mas não estou certo se ficaria tão satisfeito em levar esse corpo para um festival gospel funk sertanejo onde se exalta o lema fascista Deus, pátria e família.

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