domingo, 4 de junho de 2023

Reflexões divinas

 



Resposta a um vídeo de um pastor, no qual ele diz que Deus não existe, ELE É; que Deus não se preocupa se você acredita ou não nele, e que Deus não é matéria de discussão de nenhuma natureza, de constatações, de demonstrações, de palpabilidades; que ele não existe porque não está em lugar nenhum pra ser demonstrado, pra ser provado:

[Vocês podem não acreditar, mas não há um só deus: há inúmeros. E eles não existem: SÃO. Tem deus que regula a gula, tem deus que controla a órbita dos planetas, tem deus especializado em definir e acompanhar o percurso das abelhas, tem deus que traz poemas e canções para alguns eleitos, tem até deus que ajuda o goleiro a defender pênalti. E eles não estão nem aí para o fato de você acreditar ou não neles. Eles não precisam de prova de suas existências porque vivem não existindo, mas sendo por aí indefinidamente sempre, desde sempre, e são imperscrutáveis por nossos limitadíssimos meios.]

É apenas um comentário sarcástico para confrontar a ideia de que se a existência da divindade não pode ser submetida a prova, logo qualquer ideia do que ela supostamente seja pode ser aventada e, consequentemente, validada, já que não pode ser testada nem, portanto, descartada. Então aí cabe o politeísmo, os duendes, quaisquer seres mitológicos, quaisquer ideias estapafúrdias, no papel de geradores e comandantes das sopas de ondas e partículas incertas que compõem esse universozinho de meu deus.


No meu tempo



Perguntas a meu neto:

Você sabe o que é um disco de música? Você sabe o que é discar um número? O que é um orelhão? O que é um tubo de imagem? Um seletor de canais? O que é um videocassete? O que é rebobinar uma fita? O que é uma agulha de vitrola?

Poderia continuar esse interrogatório por essa tarde inteira e não esgotaria as perguntas.

 

E pensar que a seu pai eu perguntava se ele sabia o que era um ferro de passar roupa a carvão; uma tramela; um trem a vapor; um fogareiro a querosene; um leque; um escovão; uma enceradeira; a "friza" do cinema…

 

Não me lembro de meu pai ter-me falado de muitas coisas do tempo dele que já estivessem em desuso. Talvez tenha referido algumas práticas médicas temerárias que felizmente foram abandonadas (auto-hemoterapia, sangrias, etc), mas em termos tecnológicos, por exemplo, eu convivi com praticamente tudo que havia na juventude do meu pai.

 

Depois que eu casei, tenho testemunhado um vertiginoso movimento de introdução e superação de inovações tecnológicas, as quais tenho-me esforçado para acompanhar, porque enquanto eu estiver vivo e capaz de observar e absorver o mundo ao meu redor, este também é meu tempo.

 

Para alguém que conviveu com ecos do paleolítico, Idade Média e  Brasil Colonial na infância, é natural surpreender-se e maravilhar-se com os avanços tecnológicos, como o iPhone em que essa mensagem está sendo digitada enquanto a tela mostra previews de incoming messages do Whatsapp e o tocador de música faz soar limpidamente "The Ballad of John and Yoko".

Temos feito grandes aperfeiçoamentos no mundo das máquinas e dos aparelhos. Já nas pessoas...